“Seminário Sudeste – Por um Brasil Agroecológico” reúne entidades e atores para debater a Agroecologia na região

Seminário faz parte de rede nacional de seminários regionais para discutir políticas públicas para o desenvolvimento da Agroecologia no país.

Mesa de abertura majoritariamente feminina ressalta a importância do feminismo no desenvolvimento do movimento agroecológico. (Foto: CTA/Reprodução)

Teve início nessa terça-feira, 9, no auditório da Biblioteca Central da UFV o “Seminário Sudeste – Por um Brasil Agroecológico”, realizado pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) juntamente com parceiros do movimento agroecológico na região.

O evento faz parte de um grupo de seminários regionais – que vem acontecendo nas outras quatro regiões do país desde abril – que buscam maior interação entre organizações, redes e movimentos atuantes, a fim de compartilhar experiências e contextualizar o cenário político no meio rural, possibilitando a identificação de oportunidades e desafios para o desenvolvimento da Agroecologia. Desse modo, um dos principais objetivos do seminário é a formulação de propostas para o segundo Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (II PLANAPO), a ser executado entre 2016 e 2019.

Com uma representação majoritariamente feminina – ressaltando a importância do feminismo no movimento agroecológico – a mesa de abertura contou com falas da presidente da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), Irene Cardoso, da agricultora e articuladora do norte de Minas Gerais, Dona Lourdes, da pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Patrícia Bustamante, da representante da Câmara Interministerial de Agroecologia e Produção Orgânica (CIAPO), da reitora da UFV, Nilda Soares e do membro executivo da ANA, Eugênio Ferrari.

Cerca de 170 participantes integrarão nos dias 10 e 11 instalações pedagógicas, grupos temáticos, espaços para construção e articulação de agendas estratégicas e atividades culturais.

Confira a programação abaixo.

Programação do seminário discutirá o cenário de políticas no meio rural e propostas para o II Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (II PNAPO). (Imagem: Reprodução)

 

Com informações do CTA-ZM

Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário

Desembargador suspende processo contra 23 ativistas no Rio

Segundo decisão, acusação de corrupção de menores terá de ser explicada. Processo fica suspenso até 7ª Câmara julgar termos de alegação final.

Por Henrique Coelho, no G1 Rio

Publicado originalmente em 18 de maio de 2015

sininho

Advogado espera que habeas corpus de Elisa seja julgado antes de acusação de corrupção de menores (Foto: Armando Paiva /Fotoarena/Estadão Conteúdo)

O desembargador Siro Darlan, da 7ª Câmara, deferiu nesta segunda-feira (18) uma liminar que suspende o processo contra 23 ativistas acusados de associação criminosa e atos violentos em protestos de 2013 e 2014. Com a decisão, o processo fica suspenso até que uma acusação de corrupção de menores usada nas alegações finais pela promotoria, citando também a associação criminosa e o uso de armas, seja julgada pela 7ª Câmara Criminal. No entendimento do desembargador Siro Darlan, ela ocorreu apenas nas alegações finais do processo.

“Acrescem que a presença de  adolescente  em suposta  associação  criminosa não se  confunde  com  o  tipo  legal  de  corrupção  de  menores. Entendem  os Impetrantes, portanto, a  ocorrência  de  cerceamento  de  defesa  e ausência  de correlação  entre  a  acusação  e  sentença, inclusive  porque  não  se  adotou  o procedimento previsto no artigo 384 do Código Processual Penal”, lê-se em um trecho da decisão de Siro Darlan.

Após a liminar, a defesa de Elisa Quadros, conhecida como Sininho, e Karlayne Moraes Pinheiro, a Moa — que seguem com o paradeiro desconhecido para a Justiça mesmo após a liminar — e Igor Mendes da Silva, o único dos acusados que está preso, espera que o pedido de habeas corpus para o trio seja julgado no Supremo Tribunal de Justiça antes da decisão da 7ª Câmara Criminal.  O habeas corpus tem como autores também o Instituto de Defesa dos Direitos Humanos (DDH) e o coletivo Mariana Criola.

“A decisão é importante para que possamos ter elementos para que o recurso de habeas corpus que está sendo julgado em Brasilia, pelo Supremo Tribunal de Justiça, seja julgado. A relatoria passou para outro ministro”, afirmou Marino D’Icarahy, advogado de Elisa e Igor Mendes.

“Acreditamos que o STJ vá julgar o habeas corpus favoravelmente antes de uma sentença condenatória”, analisa Marino.

Além de Elisa e Igor, estão citados no processo Felipe Proença de Carvalho Moraes, Pedro Guilherme Mascarenhas Freire, Felipe Frieb de Carvalho, Leonardo Fortini de Baroni Pereira, Bruno de Souza Machado, Shirlene Feitoza Fonseca, Emerson Raphael Oliveira da Fonseca, Eloisa Samy Santiago, Gabriel da Silva Marinho, Camila Aparecida Rodrigues Jourdan, Rebeca Martins de Souza, Karlayne Moraes Pinheiro, Luiz Carlos Rendeiro Júnior, Igor Pereira D’Icarahy, Drean Moraes de Moura Corrêa, Pedro Brandão Maia, André de Castro Sanches Basserez, Fábio Raposo e Caio Silva de Souza.

Os dois últimos tinham outro processo contra eles pela morte do cinegrafista Santiago Andrade, mas foram libertados pela justiça do Rio em março de 2015.

Especialista explica situação
Professor de Direito Penal da Fundação Getúlio Vargas, o advogado Thiago Bottino explica que os acusados devem responder somente por crimes que constam na denúncia e, neste caso, teriam sido surpreendidos pela presença do crime de corrupção de menores somente nas alegações finais. O G1 entrou em contato com o Ministério Público para saber se houve um erro, mas não houve resposta até a última atualização desta resposta.

Segundo Bottino, a suspensão do processo pode continuar por cerca de um ou dois meses. Caso não considere um erro e queira incluir uma nova denúncia, o MP tem o direito de convocar novas testemunhas — assim como os advogados de defesa — para ser iniciado o julgamento do novo crime. A prisão de qualquer um dos envolvidos, no entanto, seria improvável.

Em relação às duas jovens foragidas e ao preso Igor Mendes da Silva, a defesa deve tentar colocá-los em liberdade justamente por conta da paralisação do processo. “O que faz com que um habeas corpus tenha preferência de ser julgado mais rápido que outros é o fato da pessoa estar presa. Se o processo é paralisado por um erro — a princípio do MP — não se pode penalizar o sujeito mais tempo”, exemplifica Bottino.

decisao_hc

Decisão de Siro Darlan suspende processo até julgamento de Habeas Corpus. (Foto: Reprodução/TJ)

Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário

Sociedade diz não ao fim da rotulagem de alimentos transgênicos

Por MST, publicado originalmente em 18 de maio de 2015.

Proposta que segue para o Senado teve repúdio de mais de 100 organizações; população brasileira pede cumprimento ao direito à informação sobre o que está consumindo.

O projeto de lei 4148/08, proposto pelo deputado Luis Carlos Heinze (PP-RS), foi aprovado em abril pela Câmara dos Deputados e, caso passe no Senado, eliminará a indicação na embalagem de produtos transgênicos. (Foto: Reprodução)

Saber se um produto contém ou não ingredientes transgênicos – um direito garantido pelo Código de Defesa do Consumidor e já aplicado à maioria dos produtos hoje disponíveis no mercado – corre o risco de ser extinguido caso o Projeto de Lei 4148/08, do deputado Luis Carlos Heinze (PP-RS), passe no Senado, após já ter sido aprovado pela Câmara dos Deputados em abril deste ano.

Diante da situação que ameaça o direito dos consumidores de todo País, uma mobilização nacional que já conta com mais de 100 entidades, encaminhou uma carta ao Senado Federal e a autoridades como o Ministério da Justiça, Ministério da Agricultura, Ministério Público Federal e Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), pedindo que o PL não seja aprovado.

Além de se contrapor ao direito do consumidor à informação sobre os alimentos que consome, a iniciativa também ignora a vontade popular. Segundo diversas pesquisas de opinião, os brasileiros querem saber se um alimento contém ingredientes transgênicos ou não (74% da população IBOPE, 2001? 71% IBOPE, 2002? 74% IBOPE, 2003? e 70,6% ISER, 2005). Desta forma o PL pode ser classificado como antidemocrático.

Longe de atender interesses dos consumidores ou aprimorar a Lei que já discorre sobre a necessidade de rotulagem obrigatória, a medida pode facilitar a venda de alimentos transgênicos ao consumidor final, que, sem o direito à informação, não terá certeza sobre a composição do alimento que está comprando, prejudicando seu poder de escolha. O Idec entende que a oferta de alimentos transgênicos  sem o conhecimento do consumidor pode contribuir para aumentar o uso dos OGMs (Organismos Geneticamente Modificados) nos produtos, sem ponderar os riscos à saúde ao qual o consumidor pode estar exposto.

Confira  abaixo as organizações signatárias da carta enviada ao Senado Federal e às autoridades e assinada em nome do FNECDC (Fórum Nacional das Entidades Civis de Defesa do Consumidor), Brasilcon (Instituto Brasileiro de Política e Direito do Consumidor) e ProconsBrasil (Associação Brasileira de Procons):

ActionAid Brasil
Agroecologia, Permacultura e Campesinato – TXAI
Articulação de Agroecologia da Bahia – AABA
Articulação de Agroecologia do Sertão do São Francisco
Articulação dos Empregados(as) rurais – ADERE
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – APIB
Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo – APOINME
Articulação Nacional de Agroecologia – ANA
Articulação no Semiárido Brasileiro – ASA
Articulação no Semiárido Paraibano – ASA Paraíba
Articulação no Semiárido Pernambucano – ASA Pernambuco
Articulação Rosalino de Povos e Comunidades Tradicionais
AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia
Associação Brasileira de Agricultura Biodinamica
Associação Brasileira de Agroecologia – ABA
Associação Brasileira de Estudantes de Engenharia Florestal – ABEEF
Associação Brasileira de PROCONS – PROCON BRASIL
Associação Brasileira de Saúde Coletiva – ABRASCO
Associação Comunitária Mantenedora Escola Família Agrícola de Sobradinho – AMEFAS
Associação Cunhambebe da Ilha Anchieta
Associação de Agricultura Natural de Campinas e Região – ANC
Associação de Agricultura Orgânica – AAO
Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo – APqC
Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural -Agapan
Associação Nacional de Agricultura Camponesa
Associação Sitio Escola Portão Grande
Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida
Cáritas Brasileira Regional Piauí
Cáritas Diocesana de Sobral – CE
Casa da Mulher do Nordeste
Central do Cerrado
Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas
Centro de Assessoria e Apoio aos Trabalhadores e Instituições Não Governamentais Alternativos – CAATINGA
Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá
Centro de Desenvolvimento Agroecoógico Sabiá – Centro Sabiá
Centro de Educação Comunitária Rural – CECOR
Centro de Estudos do Trabalho e de Assessoria ao Trabalhador – CETRA
Centro de Pesquisa e Assessoria – ESPLAR
Centro Dom José Brandão de Castro – CDJBC
Centro Feminista 8 de Março
Centro Indigenista Missionário – CIMI
Comissão Pastoral da Terra – CPT
Comissão Territorial de Revitalização da Batata Agroecológica na Região da Borborema – Paraíba
CONSEA Sorocaba, Conselho de Segurança Alimentar de Sorocaba
Conselho de Segurança Alimentar e Nutrição de Jundiaí – CONSEA-JD
Conselho Federal de Nutricionistas – CFN
Conselho Federal de Serviço Social – CFESS
Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural de Jundiaí -CMDR
Consulta Popular
Cooperativa dos Produtores Rurais Entre Serras e Águas
Cooperativa Grande Sertão
Cooperativa Mista de Produção Camponesa – CPC
Cooperativa Mista de Produção, Comercialização e Industrialização de Biocombustíveis e Produtos Agropecuários do Brasil – Oestebio
Coordenação Nacional das Comunidades Negras Rurais Quilombola – CONAQ
Coordenadoria Ecumênica de Serviço – CESE
Entidade Nacional de Estudantes de Biologia – ENEBio
Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil – FEAB
FETRAF Brasil
Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional – FBSSAN
Fórum de Agricultura Familiar da Região de Sorocaba
Fórum Nacional das Entidades Civis de Defesa do Consumidor
Fundação de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira – Fundação APAEB
Grupo CoCriação Alimentação e Sustentabilidade
Grupo de Articulação Regional da Feira de Orgânicos de Sorocaba – GARFOS
Grupo de Defesa e Promoção Socioambiental – GERMEN
Instituto Akatu
Instituto Brasileiro de Agricultura Biológica
Instituto de Permacultura da Bahia – IPB
Instituto Gondwana
Instituto Kairós
Instituto Polis
Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada – IRPAA
Levante Popular da Juventude
Marcha Mundial de Mulheres – MMM
Movimento da Mulher Trabalhadora Rural do Nordeste – MMTR/NE
Movimento de Mulheres Camponesas – MMC
Movimento de Organização Comunitária – MOC
Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB
Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA
Movimento dos Pescadores e Pescadoras – MPP
Movimento dos trabalhadores e trabalhadoras do campo MTC Brasil
Movimento dos trabalhadores rurais Sem Terra – MST
Movimento GEraizeiro
Movimento Interestadual de Quebradeiras de Coco Babaçu – MIQCB
Movimento Nacional de Direitos Humanos – MNDH
Movimento Nacional Pela Soberania Popular Frente à Mineração – MAM
NACE Pteca – Nucleo de Cultura Extensao da ESALQ-USP
Núcleo de Agroecologia Apetê Caapuã, da UFSCar Sorocaba – NAAC
Núcleo de Apoio ao Desenvolvimento da Agricultura Familiar no Semiárido Nordestino – Núcleo Sertão Verde
Núcleo de Educação Infantil Jardim do LIVRE SONHAR
Núcleo de Estudos, Pesquisas e Práticas Agroecológicas do Semiárido – NEPPAS/UFRPE
Núcleo de Pesquisa de Nutrição em Produção de Refeições – NUPPRE-UFSC
Núcleo de Pesquisa e Estudos Sertão Agroecológico/Univasf
Observatório de Políticas de Saúde Alimentar e Nutrição da UnB – OPSAN
OCS Jundiaí Orgânicos
Pastoral da Juventude Rural – PJR
Plataforma de Apoio à Agricultura Orgânica no município de São Paulo
Polo Sindical da Borborema – Paraíba
Rede ATER Nordeste
Rede das Escolas Familias Agrícolas Integradas no Semiárido – REFAISA
Rede de Agroecologia de Pernambuco
Rede de Defesa e Promoção da Alimentação Saudável, Adequada e Solidária – REDE SANS
Rede de Grupos de Agroecologia – REGA
Rede de Intercâmbio de Sementes da Microrregião Norte do Ceará
Rede Grupos de Produção e Resistência
Rede Sergipana de Agroecologia – RESEA
Secretaria Executiva da Rede Nossa São Paulo
Serviço de Assessoria a Organizações Populares Rurais – SASOP
Sindicato dos trabalhadores em água, esgoto e meio ambiente do estado de São Paulo – SINTAEMA/SP
Slow Food Brasil
SOS Mata Atlântica
Terra de Direitos
Uniao das Cooperativas de Agricultura Familiar e Economia Solidaria de Minas Gerais – UNICAFES/MG
União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária – Unicafes
União Nacional das Organizações Cooperativistas Solidárias – Unicopas
Vazanteiros em Movimento
VERDE VIVO Associação de Produtores Orgânicos da Mantiqueira
Via Campesina Brasil

Em tempo: o deputado Luís Carlos Heinze (PP/RS), pertencente à bancada ruralista, é o mesmo que apareceu em um vídeo gravado em audiência pública com produtores rurais, em Vicente Dutra (RS) em 2013, estimulando que agricultores usem de segurança armada para expulsar indígenas do que consideram ser suas terras, alegando que quilombolas, índios e homossexuais são “tudo o que não presta”. Confira no vídeo:

Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário

Armas de fogo matam 116 por dia no Brasil, diz estudo

Foto: AFP

Foto: AFP

Via BBC Brasil

Publicado originalmente em 13 de maio de 2015.

Uma média de 116 pessoas morreram por dia no Brasil em 2012 por disparos de armas de fogo, aponta o levantamento Mapa da Violência 2015, divulgado nesta quarta-feira. O número é o mais alto já observado pelo estudo, cuja série histórica começou em 1980.

É o equivalente a impressionantes 4,8 mortes por hora, índice parecido ou superior ao registrado em países em guerra.

“É como se ocorresse um massacre do Carandiru por dia (quando 111 presos foram mortos no presídio paulistano em 2 de outubro de 1992)”, diz à BBC Brasil o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, autor da pesquisa e coordenador de estudos da violência da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO).

“E isso ocorre na calada da noite, sem que haja mobilização ou escândalo. Há, na verdade, mobilização no sentido contrário, de pôr mais armas na mão da população.”

Em números totais, foram 42.416 pessoas mortas por armas de fogo em 2012 (dado mais atual disponível pelo Ministério da Saúde), e a maioria das vítimas são jovens de 15 a 29 anos.

Quase 95% dessas mortes são homicídios (o restante são acidentes com armas, suicídios ou sem causa determinada).

‘Tradição de impunidade’

Na introdução, o estudo – cujo título é Mortes Matadas por Armas de Fogo – diz que não há uma causa única por trás dos altos índices de violência do país.

“A tradição de impunidade, a lentidão dos processos judiciais e o despreparo do aparato de investigação policial são fatores que se somam para sinalizar à sociedade que a violência é tolerável em determinadas condições, de acordo com quem a pratica, contra quem, de que forma e em que lugar”, diz a pesquisa.

O estudo culpa também a “farta disponibilidade de armas” e a “a decisão de utilizar essas armas para resolver todos os tipos de conflitos interpessoais, na maior parte dos casos, banais e circunstanciais”.

Essas mortes por armas de fogo não ocorrem de forma uniforme pelo país. Na região Sudeste, por exemplo, o índice de mortes caiu quase 40% entre 2002 e 2012 – por causa de expressivos declínios nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro -, mas subiu fortemente em todas as demais regiões do país.

No Norte, o aumento foi de 135% no mesmo período.

Proporcionalmente à população, o Estado com a maior taxa de mortes por armas de fogo é Alagoas, onde foram registrados 1.740 óbitos em 2012.

Em 2012, 42,4 mil pessoas foram mortas no país vítimas de armas de fogo. (Foto: reprodução)

O Mapa também identificou focos de violência que têm crescido pelo país: municípios do interior onde a economia cresceu, mas a presença do Estado permaneceu deficiente; municípios de fronteira, que são rota de organizações transnacionais de contrabando e tráfico de drogas; o arco do desmatamento da Amazônia, infestado por práticas de trabalho escravo, madeireiras ilegais, grilagem e extermínio de índios; e grotões do país onde ainda vigora o clientelismo político.

“A violência migrou à locais menos protegidos”, diz Jacobo. “Com as mudanças no desenvolvimento econômico do país, houve uma ‘interiorização’ e um espalhamento dos homicídios.”

160 mil mortes evitadas

Segundo o estudo, o crescimento da violência armada teria sido ainda mais acentuado se não fosse o controle de armas no país, imposto desde 2003 pelo Estatuto do Desarmamento.

O Mapa da Violência estima que 160.036 pessoas (sendo 70% delas jovens) foram poupadas de mortes por armas de fogo entre 2004 e 2012 graças à lei, que restringe o porte de armas a quem tem mais de 25 anos, passe por testes de aptidão e não responda a inquéritos policiais, entre outras exigências.

O cálculo é feito a partir de projeções de quantas mortes eram esperadas (segundo análises estatísticas) para cada ano e quantas mortes de fato ocorreram.

O Estatuto do Desarmamento, porém, é alvo de polêmica. A Câmara dos Deputados debate, em uma comissão especial, um projeto de lei (3722/12) que propõe a revogação do estatuto e facilita a aquisição de armas no país.

A justificativa é de que, mesmo com o estatuto, “o país alcançou a maior marca de homicídios de sua história”, segundo afirmou, de acordo a Agência Câmara, o deputado Alberto Fraga (DEM-DF), coronel de reserva da PM.

Já críticos alegam que a mudança na lei visa beneficiar o lobby da indústria armamentista. “As estatísticas mostram que se você arma mais a população, você vai ter mais armas na mão da criminalidade”, argumentou o deputado Ivan Valente (PSOL-SP).

O Mapa da Violência defende que o desarmamento é “requisito indispensável”, mas insuficiente para conter a violência no país.

Campanha de desarmamento do governo em 2011; ‘Mapa da Violência’ estima que 160 mil vidas foram poupadas graças ao controle de armas no país. (Foto: Agência Brasil)

“Ninguém afirmou que o estatuto era a solução; ele foi apenas um primeiro passo”, afirma Jacobo Waiselfisz. “Os passos seguintes seriam mudanças que não se cumpriram, como reformas do Código Penal, do sistema penitenciário e policial.”

Jacobo cobra, também, mais campanhas de desarmamento da população, que considera “esporádicas”.

Há, no momento, uma dessas campanhas em andamento em São Paulo, até o final do mês, organizada pelo Instituto Sou da Paz. Quem entregar armas receberá indenizações de R$ 150 a R$ 450, dependendo do armamento.

Aumento das mortes

Em todo o período analisado pelo Mapa da Violência, de 1980 a 2012, o Brasil registrou 880.386 mil mortes por armas de fogo, número superior à população de São Bernardo do Campo (Grande SP).

“O total de mortos por armas de fogo em 1980 foi de 8.710 pessoas, o que significa que houve um aumento de 387% até 2012”, diz o estudo. “A população brasileira, nesse mesmo período, cresceu cerca de 61%.”

E um dos fatores mais preocupantes é que essas mortes ocorrem sobretudo entre os mais jovens. “O jovem negro e pobre é a principal vítima”, diz Jacobo. “Há estudos que apontam que os custos de saúde, economia e pelas vidas perdidas cheguem a 5% a 10% do PIB do país.”

Outro estudo recente, o Monitor de Homicídios, do Instituto Igarapé, calcula que uma em cada dez pessoas assassinadas anualmente no mundo seja brasileira.

E, enquanto a América Latina abriga apenas 8% da população mundial, concentra 33% dos homicídios registrados no planeta.

Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário

Aumento da rede de proteção à mulher é desafio no combate à violência doméstica

Por Ana Cristina Campos, da Agência Brasil

Publicado originalmente em 12 de maio de 2015.

4339

A secretária de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, Aparecida Gonçalves, disse na terça (12), em audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado, que o desafio do Poder Público é aumentar o número de serviços especializados à mulher vítima de violência doméstica.

Segundo ela, atualmente esses serviços chegam a apenas 10% dos municípios brasileiros e estão concentrados nas regiões Sul e Sudeste.

“Precisamos aumentar a capilaridade dos serviços e ampliar a qualidade do atendimento e dos profissionais. Mas não vamos mudar [o quadro de violência], se não mudarmos os padrões de comportamento. O enfrentamento da violência contra a mulher não é um problema só do Estado, mas da sociedade brasileira”, afirmou Aparecida.

Um dos principais temas da audiência pública foi o debate sobre a diminuição de assassinatos de mulheres por violência doméstica desde a sanção da Lei Maria da Penha. A constatação da redução é de pesquisa apresentada em março pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

De acordo com o instituto, desde 2006, quando entrou em vigor, a lei ajudou a diminuir em cerca de 10% a projeção anterior de aumento da taxa de homicídios de mulheres dentro de casa.

Para o diretor de Estudos e Políticas do Estado, das Instituições e da Democracia do Ipea, Daniel Cerqueira, muitos casos de violência doméstica deixaram de ocorrer por causa da Lei Maria da Penha.

“Se não fosse a lei, o número de homicídios contra as mulheres teria crescido muito mais. A política foi implementada na direção correta. Só que ainda tem muito a caminhar. Os serviços têm de ser expandidos para os rincões do país. E os que existem precisam ser aperfeiçoados. Ainda têm de ser resolvidas questões como a qualidade dos serviços, que é muito ruim, o treinamento [dos profissionais] e recursos”, destacou Cerqueira.

A senadora Angela Portela (PT-RR), que participou da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Violência contra a Mulher, disse que a CPMI constatou a omissão do Poder Público no combate à violência contra a mulher, apesar dos esforços do governo brasileiro nos últimos anos.

“A efetividade da Lei Maria da Penha ocorrerá nos estados e municípios. Para isso, é fundamental recursos orçamentários para ajudar os entes federados a implementar as estruturas. Há muito que ser feito”, acrescentou a senadora.

Durante a audiência, a ativista Silvia Ferraro, do Movimento Mulheres em Luta, informou que o grupo lançou uma campanha nacional reivindicando a destinação de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) para o combate à violência contra a mulher.

“A Lei Maria da Penha é um avanço jurídico, cumpre papel importante na punição [dos agressores], mas achamos que a rede de proteção para combater a violência é insuficiente. Temos obrigação de lutar para que os recursos públicos não sejam contingenciados para a rede de proteção”, alertou Silvia.

Aparecida Gonçalves lembrou que um dos resultados da CPMI foi o projeto de lei que cria o Fundo Nacional de Enfrentamento à Violência contra a Mulher. A proposta foi aprovado no Senado e aguarda inclusão na pauta de votação do plenário da Câmara dos Deputados.

“Esse fundo nacional estabelecerá um sistema de repasse de recursos como é hoje o SUS [Sistema Único de Saúde], de modo a garantir capilaridade ao atendimento. A reivindicação do movimento [feminista] é justa e se soma à nossa pauta na Câmara. Também defendemos um fundo nacional para que a política de enfrentamento [à violência] não seja uma política de governo, mas de Estado”, concluiu a secretária.

Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário

Para ONU, redução da maioridade penal poderá agravar violência no país

Por Marcelo Brandão, via Agência Brasil

Publicado originalmente no dia 11 de maio de 2015.

Redução da maioridade penal

Fonte: Reprodução

A Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou hoje um comunicado expondo sua posição contrária à redução da maioridade penal no Brasil. Tramita no Congresso Nacional uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC 171/1993) que propõe a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos de idade. Para a entidade, a medida, se aprovada, poderá agravar o problema da violência no país, “com graves consequências no presente e no futuro”.

“Encarcerar jovens de 16 e 17 anos em presídios superlotados será expô-los à influência direta de facções do crime organizado”, diz a nota. A ONU explica que a proporção de adolescentes que atentam contra a vida alheia é pequeno. Dos 21 milhões de jovens no Brasil, 0,013% deles cometeram atos contra a vida.

“Uma solução efetiva para os atos de violência cometidos por jovens passa pela análise das causas e pela adoção de uma abordagem integral em relação ao problema da violência”, explica a organização. Para ela, são inúmeras as evidências de que a origem da criminalidade grave está em situações anteriores de violência e negligência.

“Essas situações são muitas vezes agravadas pela ausência do apoio às famílias e pela falta de acesso destas aos benefícios das políticas públicas de educação, trabalho e emprego, saúde, habitação, assistência social, lazer, cultura, cidadania e acesso à Justiça que, potencialmente, deveriam estar disponíveis a todo e qualquer cidadão, em todas as fases do ciclo de vida”, explica a ONU em seu comunicado.

No final de março, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados aprovou a admissibilidade da PEC 171/1993 sob a ótica dos critérios de constitucionalidade, legalidade e técnica legislativa. Agora, o tema passará por uma comissão especial, instalada no dia 8 de abril, que avaliará o mérito da proposta.

A comissão terá até 40 sessões para debater o assunto e produzir um relatório, que será votado pelo colegiado e posteriormente pelo plenário da Câmara, em dois turnos de votação. Se aprovada pelos deputados, a proposta será encaminhada ao Senado. Para aprovação de uma PEC, são necessários os votos de pelos menos 308 deputados.

Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário

Em 20 anos, 50 mil trabalhadores foram resgatados de trabalho escravo no Brasil

Por Pedro Paduzzi, da Agência Brasil

Quase 50 mil trabalhadores foram resgatados de situações análogas ao trabalho escravo nos últimos 20 anos, a maior parte em Minas Gerais, de acordo com balanço divulgado hoje (13) pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), o que foi possível, de acordo com o ministro Manoel Dias, porque o país tem “uma das melhores legislações do mundo” e pelas ações concretas em parceria com outros órgãos.

O número exato é de 48.720 trabalhadores resgatados pelo Grupo Especial de Fiscalização (GEFM), em duas décadas de atuação. Nas 30 operações feitas em 2015, em 55 estabelecimentos, foram resgatadas 419 pessoas da situação de quase escravidão; Em 2014, foram resgatados 1.674 trabalhadores; e em 2013, outros 2.808.

O ano em que o maior número de trabalhadores foi resgatado de situações análogas à escravidão foi 2007, com 5.999 resgates feitos em 116 operações. O balanço detalha as ações realizadas em 2014, ano em que foi possível incluir municípios e atividades econômicas que não foram abordados nas ações de em anos anteriores, como algumas atividades do setor de extração vegetal, di tipo exploração da piaçava e da carnaúba.

De acordo com o Ministério do Trabalho, nas ações feitas na atividade de extração de pó da folha de carnaúba (produto utilizado para a fabricação de cera com inúmeras aplicações, como produção de velas, cosméticos, cápsulas de medicamentos, componentes da indústria da informática, conservação de alimentos, entre outras) nos estados do Ceará e Piauí, foram resgatados 155 trabalhadores.

No caso das fiscalizações feitas na atividade de extração de piaçava nas comunidades ribeirinhas de Barcelos e Santa Isabel do Rio Negro – no estado do Amazonas – foram resgatados 20 trabalhadores e produzidos 48 autos de infração. Também foram feitas operações a bordo de navios de cruzeiro. Neles, o GEFM encontrou 13 tripulantes nessa situação, submetidos a “jornadas exaustivas de trabalho”.

O estado que registrou maior número de trabalhadores resgatados de situações análogas à escravidão foi Minas Gerais, com 380 dos 1.674 casos registrados no país ano passado. Em segundo lugar está São Paulo, com 176 trabalhadores resgatados; seguido de Goiás, com 141 casos. A região com maior número de resgates foi a Sudeste, com 784 resgates. A Região Norte teve 359 trabalhadores resgatados; a Nordeste, 315; a Centro-Oeste, 148; e a Sul, 68 casos.

Das cinco ações fiscais que encontraram maior quantidade de trabalhadores nessa situação, duas foram em ambientes urbanos, na atividade de construção civil: 118 no município de Macaé (RJ) e 67 em Conceição do Mato Dentro (MG). Em uma ação realizada em Sooretama (ES) foram resgatados 86 trabalhadores que colhiam café; em Picos (PÌ) foram resgatadas 61 pessoas de atividades de extração da palha de carnaúba; e em Tarauacá (AC) foram 55 resgates de trabalhadores em um empreendimento de criação de bovinos.

Publicado em Uncategorized | Marcado com , | Deixe um comentário

Uma homenagem do machismo ao Dia Internacional da Mulher

Publicado originalmente por Aline Valek em CartaCapital

Parabéns a você que sabe que se for estuprada foi porque provocou, e que, se for assassinada pelo parceiro, foi porque mereceu

Parabéns pelo seu dia, mulher. Parabéns a você que é feminina, delicada e nos encanta com sua beleza. Parabéns a você que não é feminista, masculinizada ou vulgar. Parabéns a você que não fala palavrão, porque sabe que isso não é de bom tom para uma mulher.

A você que não deixa de fazer a unha, passar batom e fazer escova, mesmo que trabalhe em serviços masculinos em que isso seja totalmente dispensável, porque você sabe, a gente precisa ter certeza de que você ainda é mulher.

Parabéns a você, mulher perfeita. Sem estrias, sem gorduras, sem pelos, sem poros. A você que não é gorda e por isso cabe em roupas maravilhosas. A você que também não é magra demais, para podermos admirar suas curvas. Parabéns a você que faz de tudo para se encaixar nesse meio termo imaginário. Colocar peito, tirar barriga, levantar o nariz, depilar a laser, esticar o cabelo, clarear os dentes, malhar glúteos.

Parabéns a você que, se for gorda, está tentando emagrecer; porque todos sabem que gordas são mal amadas e não se cuidam. A você que, se for velha, está tentando o tempo todo parecer mais jovem, porque mulher tem data de validade.

Parabéns, mulher para casar. Você, que se dá ao respeito, é uma mulher de família, mulher prendada que sonha em cuidar do marido e dos filhos que ele te der. Parabéns a você que não é uma biscate, que não toma a iniciativa, que não sai na rua usando decote, minissaia e shortinho.

A você que não fica com três caras em um mês, que não transa no primeiro encontro, que sabe que não pode ter tanta liberdade sexual quanto um homem. Parabéns também a você, mulher para transar. Que é um fetiche, é desejada, é usada e é jogada fora. Parabéns a você que não é puta, pois vale ainda menos e está abaixo do que podemos considerar como um ser humano.

Parabéns mulher, mesmo se você não for hétero. A você que, mesmo gostando de outras mulheres, continua feminina e sexy, porque assim pode continuar sendo objeto do nosso desejo.

Parabéns mulher, por nunca ser levada a sério quando está nervosa ou chateada, porque todos sabemos que é apenas TPM. Parabéns a você, que é má motorista, adora sapatos e sempre estoura o limite do cartão de crédito só porque é mulher. A você que é vendida como cerveja. Parabéns a você, mulher clichê que tanto amamos.

Feliz Dia da Mulher a você, que não tem autonomia sobre seu corpo. A você que sabe que se for estuprada foi porque provocou, a você que se for assassinada pelo parceiro foi porque mereceu. Parabéns a você, que não vai tentar um aborto simplesmente porque não queremos que você faça isso, e não porque a decisão de continuar uma gestação no seu útero seja uma escolha sua. Porque não é.

Parabéns pelo seu dia, mulher. Uma homenagem de quem é a razão de existir do Dia da Mulher e o faz tão necessário até hoje.

Sinceramente,

Machismo.

Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário

A superação da subalternidade camponesa ao capital

Leia na integra  o texto de Horácio Martins de Carvalho em MabNacional

A imposição da subalternidade camponesa ao capital

A aceitação passiva por parcela significativa dos movimentos e organizações sociais e sindicais do campo e da cidade de que os camponeses são do ponto de vista do longo prazo povos destinados ao desaparecimento e, no curto e médio prazo, subalternos aos interesses de classe dos capitalistas, estimula direta e indiretamente a manutenção da dominação do capital sobre os camponeses e, como consequência, a subalternidade dos camponeses ao capital.

A expressão subalternidade está sendo aqui empregada no sentido de aceitação objetiva e subjetiva, por parte do campesinato, dos valores e das práticas de produção das empresas capitalistas, estas como referenciais para os seus desejos e aspirações como produtores diretos familiares. Ademais, essa expressão serve como instrumento político da cultura de persuasão utilizada pelas diversas frações da burguesia para fazer crer às populações urbanas que os camponeses aceitam essa subalternidade não somente por não possuírem explicitamente um projeto histórico de classe, mas, sobretudo, porque seu modo de produção e de viver é considerado como ultrapassado e anacrônico.

Predomina o dissenso entre os estudiosos e os militantes das questões camponeses com relação à compreensão de que os camponeses se constituam ou não como classe social. De maneira geral os camponeses são percebidos por alguns como “povos sem destino”, por outros como reminiscências sociais de um passado colonial onde os camponeses apareciam como trabalhadores para os senhores da terra e quiçá, pela maioria das pessoas, apenas como os pobres do campo.

Isso não significa negar os esforços econômicos, políticos e ideológicos de parcela dos camponeses (e de alguns poucos dos seus movimentos sociais e sindicais) no sentido da construção da sua autonomia relativa perante o capital. Porém, a ação política dessa parcela é por enquanto insuficiente para negar a hegemonia da racionalidade capitalista no campo. A hegemonia das idéias e valores burgueses ainda impregna a racionalidade camponesa.

Os camponeses se defrontam no seu viver pleno de contradições não apenas com os interesses de classe das empresas capitalistas do campo e da cidade como, também, com as concepções e práticas das políticas públicas dominantes exercidas pelas instituições dos governos e, amplo senso, pelo Estado, este como poder político da classe dominante.

As políticas públicas ditas compensatórias, mais apropriadamente políticas sociais para os pobres, nada mais fazem do que consolidar essa subalternidade na medida em que se constituem como instrumento de facilitação da reprodução social camponesa sob a dominação do capital. Ademais, essas ações dos governos realizam um processo seletivo que consolida e privilegia os mais aptos economicamente, sejam eles capitalistas sejam camponeses, sem contribuir para romper com a subalternidade dos camponeses em relação ao capital.

Desejo, portanto, acentuar que as políticas públicas liberal-burguesas ao tentarem estimular — tratando como iguais os diferentes, a reprodução social das empresas capitalistas e dos camponeses (entre outros) nada mais fazem do que manter ou ampliar as desigualdades sociais no campo.

Nesse contexto social no âmbito da formação econômica e social brasileira sob a dominação do modo de produção capitalista os camponeses são induzidos a se manterem subalternos seja porque seu modo de viver e de produzir é considerado pelas classes dominantes como de baixa eficiência devido ao não consumo intensivo de insumos ditos modernos, ou por não tenderem à incorporação das relações sociais de produção de assalariamento, não praticarem o monocultivo e, mas não finalmente, por optarem por uma forma de vida harmoniosa (não predadora) com a natureza.

Na minha percepção os camponeses são destratados socialmente pelas classes dominantes (e os governos que lhes são orgânicos) porque praticam formas de vida distintas daquela determinada pelo modo de produção capitalista. E numa sociedade sob a dominação e hegemonia capitalista essa alternativa só pode subsistir ou ser tolerada como uma fonte historicamente oportuna de transferência de renda dos camponeses para os capitalistas ou como o resquício social de um passado a ser superado assim que os empresários capitalistas o desejarem.

A exploração dos camponeses pelos capitalistas

A exploração camponesa pelo capital não se dá nem diretamente no processo de trabalho camponês e nem tão somente pelo intercâmbio desigual entre a produção camponesa e aquela do capital. Sem dúvida que o intercâmbio desigual está presente no processo de produção (amplo senso) camponês e se efetiva no processo de circulação quando o produto camponês, agora uma mercadoria, entra nos mercados. Mas, somente esse tipo de intercâmbio não é suficiente para compreender os mecanismos da exploração camponesa pelo capital.

Conforme sugestão de Vergés[1] é necessário para compreender a exploração camponesa pelo capital que “(…) em última instância, trata-se de construir o conceito de camponês como classe explorada e isso não se consegue apenas revelando sua condição de vendedor em condições assimétricas. Tampouco é suficiente para esclarecer as relações de exploração às quais está submetido: é necessário também revelar a forma em que essas relações se reproduzem através do processo global de produção-circulação do capital.”

No processo de produção camponesa o que se constata é a presença da família camponesa como trabalhadores diretos com seus meios de produção (terra, outros recursos naturais, instrumentos de trabalho, saberes, insumos produzidos internamente e adquiridos nos mercados, etc.) interagindo com a natureza e com os mercados, seja o camponês como comprador e ou como vendedor.

O camponês não produz apenas para a sua subsistência. Ele produz excedente que deverá ser vendido nos mercados onde adquirirá outras mercadorias, estas produzidas pelas empresas capitalistas. Nessa troca (intercâmbio entre as mercadorias camponesas por mercadorias do capital) se dá um tipo de intercâmbio desigual que não explica inteiramente a exploração camponesa. É necessário, então, se voltar ao processo de trabalho camponês que articulado com o processo de circulação poderá facilitar a compreensão dessa exploração do camponês pelo capital.

Os produtos da produção camponesa incorporam predominantemente a força de trabalho da família camponesa, portanto incorporam valor de uso, seja na realização de trabalho necessário seja na de trabalho excedente. Os produtos ‘excedentes’ da produção camponesa serão trocados por mercadorias capitalistas nos mercados ainda que nesse momento ambos os produtos, então como mercadorias, aparentem a mesma natureza (por exemplo, o arroz). No entanto os seus processos de produção, um camponês e o outro capitalista, são distintos. Mas, no mercado os produtos aparentam serem iguais, ainda que as diferenças entre eles estejam ocultas devido aos processos de trabalho distintos.

E por que isso? Voltemos a Vergés[2]: “(…) no mercado (esses produtos camponeses e capitalistas – HMC) são portadores de uma porcentagem do valor social que não guarda nenhuma relação imediata com seu valor individual nem com as condições concretas nas quais foram produzidas…na circulação capitalista esse valor não opera diretamente como preço, mas se transforma no preço de produção, o qual, por sua vez é o regulador do mercado. Esse preço de produção se constitui também como uma realidade econômica pelo simples fato de que uma mercadoria se incorpora à circulação capitalista e sua medida passa, então, a ser dada pela soma dos preços dos meios de produção consumidos, do preço da força de trabalho empregado e do lucro médio do capital.” Se, num determinado contexto uma mercadoria é vendida abaixo do seu valor de produção haverá uma transferência extraordinária do valor favorável ao comprador e desfavorável ao vendedor.

No caso do produto do camponês o preço de produção está relacionado predominante não apenas com os custos de produção, mas com as possibilidades da venda de algum excedente que garanta a reprodução social da família. No caso do produto do capitalista esse excedente está relacionado com a realização (efetivação) da mais-valia obtida durante processo de trabalho capitalista.

Se os preços praticados no mercado são relativamente baixos e caso o capitalista não alcance o lucro esperado ele poderá vender seus meios de produção e aplicar o dinheiro em outro ramo produtivo que supõe mais rentável ou na simples especulação com o dinheiro (usura). Já o camponês deverá voltar a produzir outra vez sob as mesmas condições anteriores. Caso contrário a tendência é o processo de descamponização. Raramente se observa outra tendência que é a acumulação camponesa induzindo o camponês a se transformar em capitalista.

É necessário se ressaltar “que diante da produção camponesa, o capital se apresenta como único comprador e vendedor”[3].

Eu suponho que o desejável para os camponeses, num contexto social cuja dinâmica é determinada pelos interesses dominantes da expansão e acumulação capitalistas, seria a afirmação de um camponês que não tenda a se transformar nem em capitalista nem em trabalhador rural ou urbano assalariado, mas sim que realize a afirmação da sua reprodução social enquanto camponês com autonomia relativa, elevada qualidade na vida e sem subalternidade ao capital. Isso pressuporia que os camponeses, articulados como classe social pelas suas instituições de representação de interesses, tomem a iniciativa de buscarem, pelas mais distintas vias, a superação da subalternidade ao capital.

A superação da subalternidade camponesa

As políticas públicas relacionadas com o rural objetivam, antes de tudo, a garantir e facilitar a reprodução social e a acumulação de capital por parte das empresas capitalistas numa tendência crescente de concentração de renda e de riqueza. A formulação dessas políticas públicas nos governos liberais burgueses parte da premissa de que os camponeses são parte de uma problemática social na qual sua reprodução social deve ser mantida desde que em explícita subalternidade ao capital.

No entanto, as lutas reivindicatórias e de protestos de diversos movimentos sociais e sindicais populares no campo ensejam obter outras conquistas populares mais além do simples ajuste à ordem dominante. Essas tentativas se dão não apenas na defesa de uma reforma agrária ampla e irrestrita capaz de reduzir o poder de classe das grandes empresas capitalistas que atuam no campo, como pela desejável intervenção drástica dos governos na eliminação dos latifúndios, mesmo aqueles considerados produtivos. E, mais ainda, na democratização da posse e uso das terras aplicando a legislação fundiária vigente e impedindo a expansão capitalista em áreas de preservação permanente dos diversos biomas do país.

Os camponeses necessitam ampliar a sua cultura política de maneira que facilita seus esforços de romper com a subalternidade ideológica e política à racionalidade capitalista. Isso lhes proporcionaria condições efetivas políticas e ideológicas de alijar criticamente de suas concepções de mundo os referencias que lhe foram impostos pelo pensamento único burguês.

A ideologia burguesa hegemônica aborda essa possibilidade de emancipação camponesa do capital na base da pilhéria quando diversos intelectuais orgânicos do capital alegam que essa ruptura da subalternidade camponesa, da construção de uma modernidade camponesa, seria um retorno ao passado camponês, à economia de subsistência,  aos pobres laboriosos subalternos sem projeto histórica de se afirmarem como sujeitos sociais. Propõe como um avanço político a integração (subalternidade consentida) dos camponeses aos projetos agroindustriais burgueses através de contratos de produção que nada mais são do que formas diversificadas de subalternidade dos camponeses ao capital.

A superação dessa subalternidade camponesa ao capital exige necessariamente por parte dos camponeses a vontade política e a capacidade intelectual de proporem um projeto nacional de afirmação camponesa ao se responsabilizarem no médio e logo prazos com a tarefa estratégica de produção dos alimentos que o país necessita tanto para dar conta do consumo interno como para contribuir com a pauta de exportações.

Uma das condições necessárias para tal projeto seria a demanda estrutural dos camponeses por mais terra para produzirem, além daquela que porventura seja destinada à reforma agrária na constituição de novos camponeses. Mais terra significa não apenas ter acesso viável aos estoques de terras públicas e devolutas como democratizando a posse e uso da terra das grandes empresas capitalistas rurais. Mais terra significa maior probabilidade de aumento e diversificação da produção em consonância com a garantia da biodiversidade e do meio ambiente.

É indispensável se considerar que a concentração da estrutura fundiária no Brasil é um dos mais relevantes fatores que determinam a subalternidade dos camponeses ao capital. A esse fator se agrega a pobreza relativa dos camponeses que historicamente vem sendo mantida pelas classes dominantes no campo ao impedirem que acessem a mais terras para produzirem.

A elegia ao camponês como pobre laborioso é uma forma de humilhação dos camponeses pelo capital. Pobres que trabalham, mas continuam pobres. Essa pobreza camponesa é estrutural: faz parte não apenas do projeto de dominação econômica e política e de controle das terras agricultáveis do país pela burguesia, mas, principalmente, de manter e, se possível, ampliar as condições objetivas e subjetivas no mundo rural que lhes facilitem a exploração dos camponeses e dos assalariados rurais.

A subalternidade camponesa ao capital é um projeto histórico de dominação que se faz hegemônico ao contar com o consentimento alienado das populações rurais e urbanas. Os esforços de superação dessa subalternidade é tarefa de todas as pessoas que se empenham pelas mais distintas vias na construção de uma vida societária mais justa e mais equânime.

 

[1] Vergés, Armando Bartra (2011). Os novos camponeses: leituras a partir do México profundo. São Paulo, Cultura Acadêmica e Cátedra Unesco de Educação do Campo e Desenvolvimento Rural, p. 21-23.

[2] Vergés, op. cit. p. 26.

[3] Vergés, ibidem p. 16.

Publicado em MAB | Deixe um comentário

Comece a falar “a travesti”, por favor

Originalmente publicado em CartaCapital por por Lino Bocchini 

137fb59d-ec71-471e-ad4c-bddadc9b78a1

“No começo de 2010 fui recebido por Claudia Wonder em seu simpático apartamento no bairro paulistano dos Jardins para uma longa e agradável entrevista. A multiartista não escapava do mesmo tipo de desinformação que rotula como homens as mulheres transexuais. Um dos maiores ícones trans do Brasil, Claudia morreria poucos meses depois, em 26 de novembro de 2010, aos 55 anos, vítima de uma infecção.

Aquela conversa ficou gravada em minha cabeça.

Jornalistas são procurados por suas fontes após a publicação de uma reportagem pelos mais variados motivos. Comigo não é diferente. Fui procurado, em 2011, por uma artista plástica carioca citada em uma reportagem que fiz para a revista Trip especial Diversidade Sexual – aquela famosa pela capa com dois surfistas se beijando. Travesti, ela me agradeceu imensamente pelo fato de eu ter usado o artigo feminino a cada vez que me referia a uma mulher transexual, ela incluída. “Você não sabe como isso é importante para nós”, enfatizou.

Essa conversa também me marcou e, desde então, estou “devendo” este texto.

Mulheres transexuais compõem o extrato da população que mais sofre com o ódio e o preconceito da sociedade. Mais do que os negros, mais do que os gays ou as lésbicas, mais do que os presidiários. São a Geni máxima do mundo. Para o cidadão comum, mesmo um dependente químico de crack que more na rua e pratique roubos para manter seu vício “merece” mais respeito ou piedade. Muitos reconhecem o “craqueiro”, no fundo, como uma vítima. A travesti não. Essa é uma “sem-vergonha”, e leva essa vida “porque quer”.

Esse tipo de julgamento é deplorável, mas gostaria de me solidarizar com o leitor não militante.

Faço reportagens sobre o universo transexual desde a faculdade, e mesmo assim não sou o melhor exemplo. Correto seria nem sequer usarmos a palavra “travesti”, afinal estamos falando de mulheres. Num grau ainda mais elevado de correção política, a divisão se dá entre homens e mulheres cisgênero e trans. Sendo “cis”, as pessoas nascidas com um corpo masculino ou feminino e que se reconhecem como tal. Pelo senso comum um tanto preconceituoso, são os homens e mulheres “convencionais”.

E o artigo feminino com isso?

Só nos últimos anos comecei a usar exclusivamente o artigo feminino para referir-me às mulheres trans. E faço aqui um mea culpa: várias vezes oscilei entre o uso do artigo masculino e o feminino, como em uma outra matéria para a revista Trip, da qual fui redator-chefe por 4 anos. Era um perfil de Andreia de Maio, travesti mítica, ao mesmo tempo cafetina e mãezona das travestis da região da rua Amaral Gurgel. Carismática, inteligente e poderosa, Andreia, falecida em 2000, foi a última “xerife” desta tradicional área de prostituição de travestis no centro de São Paulo.

Quando a conheci, nos meados dos anos 90, ela andava “menos arrumada” que nos anos 70 ou 80, e seu rosto “descuidado” enganou minha inexperiência. Acabei usando algumas vezes o artigo masculino no texto, desconsiderando que Andreia, como toda travesti, “desarrumada” ou não, nasceu e sempre foi Andreia.

Confesso que algumas vezes ainda me vejo obrigado a um pequeno esforço mental para evitar usar “o travesti”.

E termino convidando o leitor não militante para este exercício simples e saudável de usar sempre o artigo feminino para elas. A cada vez que você conseguir, terá pensado na questão trans por uma fração de segundo. Já ajuda. E pode ter certeza de que elas agradecem.”

Após ler o texto, um leitor da CartaCapital afirma: “Acho que o tratamento de “O” ou “A”, é de somenos. O grande problema mesmo é o preconceito. Não só contra elas, mas gays, negros, índios e outras minorias. Essa “bestialidade” cultural é uma doença que deve ser combatida com mais informação, mais educação. Mas gostei do texto e da bela homenagem à Cláudia Honder. À elas todo o nosso respeito, principalmente pela bravura de assumirem o que são, num mundo desigual, injusto e intolerante.”

E você, o que pensa?

Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário