Mutirões indígenas agroflorestais promovem agroecologia na Amazônia

Eduardo Sá, da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA)

Publicado originalmente em Brasil de Fato, no dia 18/11/2014

O objetivo é incorporar ao modo de produção tradicional dos indígenas técnicas agrícolas que respeitem a natureza e diversifiquem o plantio para uma alimentação mais saudável. (Foto: Eduardo Sá)

Quatro aldeias da terra indígena Caititu do povo Apurinã, localizadas no entorno do município de Lábrea, no Amazonas, receberam cerca de 100 pessoas, entre os dias 3 e 10 de novembro, durante o mutirão agroflorestal e troca de sementes da TI Caititu, em busca do aprimoramento de Sistemas Agroflorestais na Amazônia.

O objetivo é incorporar ao modo de produção tradicional dos indígenas técnicas agrícolas que respeitem a natureza e diversifiquem o plantio para uma alimentação mais saudável. A iniciativa foi promovida pela Operação Amazônia Nativa (OPAN), uma organização que trabalha em defesa dos direitos indígenas há mais de 45 anos.

Os Apurinã se concentram às margens da rodovia Transamazônica, estrada construída em meados da década de 1970 durante a ditadura militar. O encontro estimulou o intercâmbio entre outros povos da região do Médio Purus e contou com a participação de indígenas do noroeste do Mato Grosso, Myky e Sabane, dos Xavante de Marãiwatsédé e dos Ashaninka, do Acre, além dos técnicos e convidados.

Os visitantes ficaram alojados na comunidade Novo Paraíso, onde no ano passado foi realizado pela OPAN o projeto piloto para multiplicação dessa metodologia. Os indígenas foram ganhando confiança no trabalho conforme os resultados foram aparecendo, principalmente com o combate ao furão, praga  que cresce em locais sem sombra e prejudica o crescimento de outras plantas.

“O mutirão agroflorestal foi um encontro rico em conhecimentos técnicos e tradicionais dos diversos povos participantes, conciliando dessa maneira para um melhor entendimento dos princípios agroecológicos e implementação das técnicas, sendo que uma das bases de referência de pesquisas da agroecologia são os históricos conhecimentos e trabalhos realizados por povos indígenas de todo o planeta”, explicou Magno de Lima dos Santos, indigenista da OPAN.

Diferentes culturas

“Além disso foi um ponto de encontro entre diferentes culturas, cada uma se auto afirmando e exibindo suas músicas, mitos, ritos e cura, isso impactou de maneira positiva as lideranças da T.I Caititu, que vem tendo dificuldades de expor essa essência de sua cultura. Saem do evento com sua auto estima melhorada e encorajados a nunca desistir de sua luta e determinados a replicar todo o aprendizado”, complementou.

Filho do cacique da aldeia, José Nogueira de Almeida Apurinã, conhecido por miúdo, explicou na abertura do evento que os índios já trabalhavam tradicionalmente com o reflorestamento mas não sabiam das novas técnicas para diversificar a produção. E as comunidades já viram que dá certo, então passaram a desperdiçar menos e a não usar o sistema da coivara, queima da área a ser produzida, que vem dos costumes originais.

“Hoje estamos aproveitando muita matéria prima para fortalecer o solo e as plantas, então queremos passar isso para outras aldeias. Me surpreendeu a maneira de plantar a mandioca, a gente cavava com a enxada e agora varre o plantio e nasce bonita.   Então reflorestamos para resgatar e preservar o meio ambiente, pois a floresta amazônica está sendo invadida pelos brancos e se não recebermos apoio para fazermos esse trabalho vamos sofrer porque vai acabar causando temporal, furacão, essas coisas, sem árvore para impedir. A quentura também está muito forte. Muitas plantas já foram destruídas pelos madeireiros e hoje temos que devolver para o solo da terra”, afirmou.

Se antes a alimentação era mais baseada na mandioca e alguns frutos espontâneos da floresta, incluindo a caça e a pesca, hoje eles contam com uma dieta mais equilibrada dispondo de mais leguminosas e folhas, além de frutos de outras espécies. Mas as dificuldades ainda são muitas, inclusive alimentares. Ao lado do babaçu, açaí, tucumã, cupuaçu, dentre outras espécies nativas, já podem ser vistas variedades de outras regiões do país.

No dia 8 de dezembro de 2013 foi realizado o primeiro mutirão, e nesse encontro os técnicos tiveram a oportunidade de avaliar o processo e incluir novos elementos em diálogo com as necessidades locais. Essa forma de plantar está se multiplicando entre os indígenas, e os tornando cada vez mais independentes dos produtos de fora das aldeias.

Foram utilizadas algumas sementes orgânicas da Bionatur, organização do sul do país, principalmente de hortaliças, junto às plantações para adubar o terreno. Colocam tocos de madeira beirando os canteiros para demarcar o local e servir de adubo após a decomposição dos seus nutrientes. Logo após é jogado mato, galhos, folhas, dentre outros nutrientes naturais, para fertilização da área. Algumas árvores são preservadas, de forma a garantir um pouco de sombra ao plantio.

A riqueza do intercâmbio

Durante o mutirão agroflorestal foi possível ver e ouvir a troca de experiências entre os participantes. Cada um relatava suas práticas, de modo a complementar os saberes sobre o manejo da floresta do outro. Uma grande riqueza de conhecimentos sobre a diversidade da natureza.

Métodos orgânicos para o combate de pragas, consórcio de plantas para acelerar ou qualificar a produção, formas de tornar a terra mais fértil, dentre outros benefícios, foram apontados. O sistema de mutirão, que viabiliza um trabalho coletivo mais eficiente e em pouco tempo, foi elogiado pelos indígenas.

Marivan Nogueira Apurinã, conhecido como Sassá, de 25 nos, é nascido e criado na aldeia Novo Paraíso e principal responsável pelo roçado.  Para ele, é uma grande surpresa ter tanta fruta e planta nova. “É uma experiência muito rica o intercâmbio, possibilitando o aprendizado de novos conhecimentos”, acrescentou.

“Ninguém esperava. Nunca pensei que chegaria nesse ponto. Conheci parentes que eu nem sabia que existiam e com a troca de sementes conheci também muitas plantas. Os canteiros, por exemplo, eu não sabia fazer e está evoluindo e avançando bastante. Nosso roçado só tinha mandioca, a gente tacava fogo, e agora dá mais trabalho mas o resultado é muito melhor”, disse.

“Nossa aldeia tinha parado o açaizeiro também, mas um senhor fez um roçado e quando tocou fogo acabou perdendo a árvore. E agora cortando a árvore ou deixando ela apodrecer para usar dá mais certo, vou levar isso para minha aldeia e outros parentes”, disse Marcílio Apurinã, da Federação das Organizações de Comunidades Indígenas do Médio Púrus (FOCIMP).

Para um dos técnicos,convidado para o mutirão, Eloir Bernardon, da Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso, a mandioca, que é a comida mais tradicional dos índios, ajuda as outras plantas a crescer cobrindo a vegetação com a sombra.

 “Era uma área de furão (mato indicador de solo ácido) imprópria para produção e agora tem ingá, feijão de porco, abacaxi, urucum, caju, coqueiro, jatobá, banana, etc. Muitas das plantas foram usadas só para adubar, já podendo retirá-las no processo da implantação do sistema consorciado com várias outras  juntas e misturadas”, explicou.

Eles seguiram os canteiros podando e retirando com a mão e algumas ferramentas o furão e cipós, além de colher um pouco de mandioca e outros frutos. Cerca de um hectare foi trabalhado em cada uma das aldeias, o que já garante a diversidade alimentar. Cortaram um urucum inteiro, por exemplo, para jogar no canteiro e servir de adubo a uma laranjeira, que é uma planta mais exigente no seu desenvolvimento. Essas técnicas foram estimuladas durante o evento, no sentido de empoderar os indígenas para uma roça mais farta no futuro.

As mulheres e crianças ajudaram principalmente na distribuição de sementes pelo terreno. Os canteiros têm uma distância de 4 metros uns dos outros, mantendo um espaço de até dois metros entre cada plantio, que geralmente mistura diversas variedades no mesmo local. Em até seis meses, segundo os técnicos, já é possível colher alguns alimentos.

Aprendizado

“É um aprendizado muito bom, vai fazer bem a nossa terra. Um trabalho diferente, que eu posso ensinar para o meu povo. Lá temos muita planta nativa, nosso roçado derrubou muito açaí e agora estamos aprendendo a preservar”, disse o indígena Nilson Paumari, da terra indígena Paumari do Lago Manissuã, localizada no rio Tapauá, distante 2 dias de barco do município de Lábrea..

“A macaxeira é fonte de carboidrato com boa energia, e dá adubo e sementes, além das cascas que servem para alimentar as galinhas. E é tudo de graça aqui. Por isso é o pão nosso de cada dia, porque o trigo vem de fora. Tem que botar as sementes separadas para não machucar uma a outra na hora de retirar. No primeiro momento cada planta ajuda a outra a crescer, depois a gente escolhe as melhores”, explicou o técnico Henrique Sousa, de Jaguaquara, na Bahia, ao mostrar os pés de abacaxi, cupuaçu, cumaru e macaxeira plantados no mesmo lugar.

Uma preocupação colocada na conversa depois do mutirão foi relacionada ao lixo, que tem crescido dentro da terra indígena. Bateria, plástico, vidros, dentre outras coisas criadas pelo homem branco e usadas pelos indígenas devido à proximidade com a cidade, precisam ser tratadas pelos indígenas. Para dar um bom exemplo de educação ambiental, após as atividades foi realizada a limpeza do igarapé.

Os transgênicos também foram criticados: “É preciso ter muita preocupação com os transgênicos. A ciência do homem vai acabar criando coisa que não saberemos solucionar. Criam químicas que a natureza não vai conseguir resolver naturalmente”, disse Benki Pianko, da etnia Ashaninka, do Acre.

Ao ver uma larva e uma lagarta nas folhas de uma planta, Valdir Sabanê, indígena do noroeste do Mato Grosso, recomendou a utilização de uma mistura com água, lascas de sabão em barra neutro e tabaco de rolo orgânico para pulverização das pragas.

Segundo ele, essa é uma forma natural e eficiente para o combate de pestes.“Tem que bater e misturar para pulverizar o pomar, o feijão, o canteiro. Com pouco sabão fica mais liso e o tabaco dá o cheiro e a ardênciaque espanta as pragas”, disse.

As crianças também participam desde pequenas no plantio e colheita do roçado. Milton Lima tem 13 anos, cursa a 6ª série, e mora na aldeia Paranã. Nesse ano não conseguiu acompanhar o ano letivo, pois sua aldeia fica entre rios afluentes do Purus e é de difícil acesso. Quando os igarapés enchem mora na casa de sua avó, na aldeia Jacamin, já que sua casa fica inundada e a plantação inutilizada.

“Nas duas é bom de plantar. Às vezes eu pesco cedo e volto à noite, nós pega muito peixe. Pesca com malhadeira e caniço, usamos minhoca no anzol. Na casa da minha vó tem cupuaçu, manga, ingá, castanheira, etc. Vou para lá quando não tem aula, a gente fica na roça todo o dia. Pego também castanha, quebro o coco e levo pra casa. Ajudo ela também a caçar, pegamos paca cercando ela embaixo e usando tira com boca (ferramenta de plantio) e terçado (facão).  Esse encontro é legal para conhecer novas coisas, para mim as palhas e galhos eram tudo lixo e jogava fora”, contou o menino.

Publicado em Geipó | Marcado com , , | Deixe um comentário

Observatório convoca edital de apresentação de trabalhos em sua primeira revista

O Observatório de Movimentos Sociais da Zona da Mata convoca estudantes, professoras/es e demais pessoas interessadas em apresentar artigos, ensaios ou resenhas para serem  publicadas na primeira Revista do Observatório de Movimentos sociais da Zona da Mata.

A Revista solicita o envio de artigos, resenhas e ensaios escritos em língua portuguesa. As temáticas relacionadas aos movimentos sociais e às suas bandeiras.

Confira o Edital para a Revista.

Vamos todxs participar!

Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário

‘Ferguson mostrou ao mundo que a América não mudou desde a escravidão’ dizem ativistas negros dos EUA

Originalmente postado no NINJA.

Carey Jenkins e Detric Quinlan, ativistas negros dos EUA. Foto: Mídia NINJA

Carey Jenkins e Detric Quinlan, ativistas negros dos EUA.

É fácil pensar que existem poucas pautas comuns entre nós, latinos, e eles, norte americanos. Mas “eles” também são negros. Também lutam pela desmilitarização da polícia, o fim do racismo – que tira a vida de um jovem negro a cada  28h pela mão da polícia – e uma mídia democrática, num país onde pelo menos 2 milhões de pessoas estão encarceradas.

A outra América do presidente negro Obama, a “ilusão da democracia”,  pouco descrita pelos meios de comunicação de norte a sul, se escancara em uma breve conversa com Carey Jenkins e Detric Quinlan, ativistas de passagem pelo Brasil para as atividades do 14º Encontro Latino americano da Juventude, que acontece até domingo (23) na cidade de Palmeira das Missões (RS).

Ambos se mudaram para Ferguson após o assassinato do jovem Michael Brown pelo policial branco Darren Wilson. Seria só mais um Silva, não fosse a grande onda de indignação que sua morte gerou em todo os EUA. Uma pequena cidade, uma nova tragédia e a formação de uma grande rede de proteção aos oprimidos no país.

Midia NINJA: No Brasil temos um debate acalorado nesse momento sobre a violência policial e o racismo, por isso nos interessa muito o caso de Ferguson. O que acontece lá?

Detric: Os jovens e os trabalhadores de Ferguson decidiram fazer o que nós sempre quisemos. Eles finalmente ficaram de saco cheio e resolveram lutar. A morte de Michael Brown deu ignição em algo novo naquela comunidade, começaram a dizer: “Não vamos mais permitir a militarização da polícia, não vamos deixar que tirem nossas crianças da escola para a fila de espera das prisões, vamos ser quem somos sem ter que morrer por isso.” Isso inspirou muitos de nós por todo os Estados Unidos. Entramos em nossos carros e fomos lá para dar apoio, fomos lá não para impor uma ideologia, mas para estar na base de apoio do que eles quisessem fazer.

Até eles matarem o Brown, seria apenas mais um negro assassinado. Um negro morre nas mãos da polícia a cada 28h no nosso país, então não é como se fosse uma grande notícia. O medo de resistir caiu por terra, começamos um enfrentamento. Quando todos dizem “Lute, Lute”, faz você querer vir e lutar.

Mídia Ninja: Estamos falando de uma das sociedades mais militarizadas do mundo quando falamos dos EUA. Como acham que um processo de desmilitarização das polícias pode acontecer nesse contexto?

Detric: É uma questão difícil. Eles justificam seus atos baseados em nada. Aí usam a mídia para nos mostrar essas imagens e acreditamos que estão fazendo isso pela proteção do povo. E na verdade só estão nos oprimindo mais. Quando estávamos em Atlanta e vimos as imagens na CNN tivemos a certeza que deveríamos ir para Ferguson! Parecia um país de terceiro mundo… “Isso não pode ser os Estados Unidos!”, pensamos. Chegamos lá e nos demos conta, isso não pode ser Ferguson. Era um bairro de subúrbio, com trabalhadores, e não se parecia em nada com o que nos mostravam na mídia. Acho que está na hora de começarmos a contar nossa própria história. Esta na hora de nos levantarmos.

Mídia Ninja: Por que vocês se mudaram para Ferguson depois dos acontecimentos?

Carey Jenkins : Estava sentado vendo TV em casa e comecei a ver jovens negros tomando balas de borracha e bombas de gás, imaginei meu filho de 18 anos ali, sofrendo aquilo. Um amigo fez uma chamada nas redes sociais para irmos para lá, chegamos no dia 14 de agosto, 3 ou 4 dias depois de Brown ter sido morto. Não saímos desde então.

Detric:Fomos em 6 pessoas de Atlanta pra lá. No 5º dia, quando deveríamos voltar, meu marido disse: “Meu povo precisa de mim aqui”. Foi o dia que jogaram gás lacrimogêneo em todos. A partir da tragédia começaram a se formar comunidades, as pessoas começaram a se juntar para combater as injustiças contra o povo negro, e isso que deixou a polícia com medo. Em geral não conhecemos nossos vizinhos, ou as pessoas que vivem a uma quadra de nós. Aí eles começaram a jogar bombas, em crianças, avós. Não havia motivos pra aquilo.

Nós não questionamos o governo, vivemos essa vida de pobreza. Minha mãe acreditou por muito tempo que eramos classe média. Não eramos classe média. Na verdade nosso pagamento esta nos deixando próximos de sermos sem-teto. Você começa a ver o sistema que botou tanta fé, e que nunca trabalhou por você, sempre trabalhou contra você. As pessoas estão começando a abrir seus olhos!

Mídia Ninja: A mídia parece ser uma questão fundamental para Ferguson…

Detric: A mídia controla a narrativa. Eles querem contar nossa história. Porém, decidimos que nós é que vamos contar nossa própria história.

Isso que é bonito nas mídia sociais, você vê as coisas em tempo real, tem transmissões ao vivo, é difícil pra eles empurrarem suas narrativas quando você consegue prover as pessoas com a verdade. Fomos pra lá pra isso, para mostrar a nossa versão dos fatos. Fomos lá como cidadãos conscientes, para dar suporte ao nosso povo. Negros defendendo os direitos do povo negro, em Ferguson.

Havia pessoas de todos os lugares, foi incrível. Só de ver as pessoas se juntando daquele jeito, por aquela tragedia, algo havia nascido. As pessoas começaram a ver o poder que têm, e dependeu de um lugar pequeno como Ferguson pra isso acontecer. Ferguson decidiu que não vai deixar as coisas voltarem ao normal. Não vamos esquecer não somente o que aconteceu com Michael Brown, ou com qualquer individuo antes e depois dele. Já foram 3 ou 4 mortes desde seu assassinato. A imagem dele jogado nas ruas por 3 ou 4h vai residir na mente de todos. Isso nos motiva a continuar, não temos que aceitar isso, e não vamos!

Mídia Ninja: Vocês conhecem um pouco do que acontece no Brasil nesse momento?

Detric: Conheço pouco a história do Brasil, quero conhecer mais, mas a conexão é real, tudo é tão similar… O fato de morrer um negro a cada 28h nas mãos da polícia dos EUA, quer dizer que estamos falando de brutalidade policial. É isso o que eles fazem com o nosso povo. Os crimes resultantes de conflitos entre negros do mesmo bairro tem origem na pobreza. A brutalidade policial é puro racismo. Estamos falando da policia ser desumana com os negros, não nos venham falar o que os negros estão fazendo com eles mesmo, porque vivemos em comunidades onde não temos nada, se você vier com algo que não tenha não é dificil de entender que vou tomar de você. É isso que a pobreza faz. O sistema nos mantem na pobreza, é o mesmo sistema. Um grupo muito pequeno de pessoas controla a maneira como vivemos. Não vamos mais esperar ninguém nos trazer mudanças. Não nos interessa mais sermos definidos por nossos opressores.

CJ: Acho que a opressão é a mesma no Brasil, na África do Sul ou na América. Quando você tem uma minoria que controla todos os recursos, a lógica é dividir, conquistar e nos manter oprimidos. É o mesmo, não importa onde esteja. Estou feliz que Ferguson pode mostrar ao mundo que a América não mudou desde a escravidão, é a mesma injustiça, eles só trocaram os nomes. Como quer que chamem agora eles ainda são os donos dos escravos, agora se encondem através das leis e da polícia, que é quem faz o trabalho sujo. E é o mesmo fora de nosso país. Existe um ataque global contra o povo negro, então temos que ter um front também global de defesa.

Mídia Ninja: Como é possível constituir e construir um pensamento progressista, alinhado às pautas históricas da esquerda, em um país como os Estados Unidos?

CJ: Acho que é por isso que estou aqui. Pra aprender com as melhores experiências, os movimentos sociais tem feito um ótimo trabalho aqui no Brasil. Tudo que vi de melhor é orgânico. A centelha foi causada porque as pessoas estavam cheias da violência e opressão, a reação é orgânica. Precisamos compartilhar as melhores experiências. A chama não pode morrer, temos que ter consistência, e tem que que haver suporte da comunidade latina. Temos que ter estrategia, mas sem forçar. Desde que haja amor incondicional e não formos cooptados, com consistência e com luta. É minha primeira vez fora dos EUA, e estou aqui no Brasil escutando as experiências de vocês e vou levar de volta pra Ferguson. Tudo é possível. Vejo um mundo melhor, onde irmãos negros e latinos não sejam mortos como cachorros. Isso não é viver.  Me recuso a voltar para ilusão da democracia. A América não é democracia, é injustiça, sempre foi assim. Precisamos queimar tudo até o chão. O sistema precisa ser reconstruído, precisamos de mudanças.

Mídia Ninja: Estamos próximos ao julgamento do policial que matou Michael Brown, que pode ser solto sem ser incriminado. O governador acaba de declarar estado de emergência por medo de novos protestos em Ferguson, o que podemos esperar?

CJ: Fomos atacados por bombas de gás e balas de borracha, atiraram em deficientes, bêbes, mulheres, crianças. Se nos lembrarmos dos protestos do Eyes on The Prize, em 1956 (movimento contra a segregação nos ônibus públicos dos EUA)  viamos o mesmo ódio nos olhos dos policias brancos, a mesma falta de compaixão nos olhos dos policiais brancos, enquanto nos bombardeavam. A Guarda Nacional foi criada nos anos 60 para proteger aquelas marchas, agora protegem a corrupção e as corporações, o Status Quo. O Obama não foi lá, nem o Departamento de Justiça, não podemos confiar neles. Não podemos mais ser silenciados, mesmo que seja possível silenciar Ferguson, a Guarda não pode estar em todas as cidades ao mesmo tempo. Ferguson e Brown foram só a centelha, há Browns no Brasil e em todos os lugares, independente do julgamento do policial assassino, ficaremos de pé. Brasil, não acredite que temos democracia, que temos liberdade! Sou uma testemunha viva. Tenho tantos amigos que foram mortos ou presos de forma injusta. Isso tem que mudar. Hoje é Ferguson, é o Brasil. Amanhã será a liberdade.

Mídia Ninja:  Qual foi o papel do Obama enquanto presidente negro, nesse tema? O que ele tem dito sobre Ferguson?

CJ: Nada. Não tem dito nada. Um cara como ele no poder faz com que as pessoas voltem a dormir tranquilas. Quando Bush era presidente sabíamos que ele não ligava para nós. Mas como temos um negro no poder pensamos: “Dêem mais  tempo pra ele, está com dificuldades, com um governo bagunçado…” Ele tem bombardeado outros países, matado presidentes e pessoas inocentes, usado drones. Obama também tem sangue em suas mãos. Por ser um presidente negro, o povo pobre cobra menos. O maior truque que o demônio pode ter é vir como um amigo.

Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário

Professor gay do DF ganha 45 dias de licença 10 meses após adotar 4 filhos

Originalmente publicado por Isabella Formiga do G1 DF

Osmir Messora e o professor Carlos Eduardo Souza com os quatro filhos  (Foto: Isabella Formiga/G1)

Osmir Messora e o professor Carlos Eduardo Santos com os quatro filhos (Foto: Isabella Formiga/G1)

Um professor do curso de enfermagem da Universidade de Brasília (UnB) conseguiu, após dez meses de espera, o direito a licença-adotante de 45 dias para os quatro filhos, todos irmãos, que adotou com o marido no final de 2013. O benefício, que por lei é de cinco dias para pais e de 45 dias para mães, foi o primeiro a ser concedido a um homem servidor público federal sem que houvesse a necessidade de se acionar a Justiça. A decisão saiu no final de outubro.

Juntos há quase 30 anos, Carlos Eduardo Santos, de 54 anos, e o aposentado Osmir Messora Júnior, de 53, iniciaram o longo processo de adoção há dez anos, quando ainda viviam em São Paulo. À época, a relação do casal não era reconhecida pelo Estado e, por isso, Messora tentou sozinho entrar para o Cadastro Nacional de Adoção (CNA), uma ferramenta que reúne dados das varas de infância e da juventude de todo o país. O processo, no entanto, não teve final feliz: mesmo já sendo chamado de “pai” pela criança que pretendia adotar, ele teve o direito à paternidade negado pela Justiça.

Quando o casal se mudou para Brasília, há dois anos, precisou enfrentar novamente o longo trâmite burocrático para ser aprovado para o CNA: processo de visitas e entrevistas com assistentes sociais e psicólogos, pesquisa socioeconômica do casal e até um curso preparatório.

“Foi durante o curso que a gente teve a certeza e se abriu mais para a ideia de adotar um grupo de irmãos, porque tínhamos preferência por uma criança de até dois anos. Mas no curso perdemos o preconceito, a crença que todo mundo tem de que crianças mais velhas já vêm com personalidade formada, que é muito difícil modificar”, diz o professor.

“Nos decidimos por três irmãos, meninos ou meninas, de até oito anos, que é o que mais tem disponível”, afirma Messora. “Essa coisa de bebezinho não existe, a fila é muito grande, existem poucas crianças.”

Em dezembro, dez minutos após entrarem oficialmente para o cadastro nacional, o casal recebeu a ligação pela qual esperou por dez anos.

Os meninos
O primeiro contato de Messora e Santos com os meninos de 3, 5 e 7 anos foi por telefone. Eles viviam em Pernambuco e estavam havia dois anos no abrigo, após serem tomados dos pais pelo Estado por negligência.

Quando partiram para Caruaru para conhecer as crianças, foram surpreendidos com a notícia de que as crianças tinham um irmão recém-nascido.

“Eles disseram que não éramos obrigados a ficar com ele e que inclusive não podíamos trazer ele junto com os outros, por ser um processo de adoção diferente”, disse o aposentado. “Mas nem precisamos pensar muito. Eles são irmãos. Na mesma hora falamos que sim.”

Messora conta que os irmãos já sabiam que teriam uma família “diferente”, com dois pais. “Ele [Felipe, de 7 anos] olhava para a gente, mas acho que não conseguia entender. Então a gente teve que explicar. Mostramos para ele o vídeo do nosso casamento, o álbum do casamento na união civil, da cerimônia tradicional com juiz de paz, familiares. Aí eles entenderam e tiraram um pouco aquela coisa errada, aquela ideia que faziam dos homossexuais”, diz Santos.

Meninos se divertem no quarto que dividem na Asa Norte (Foto: Isabella Formiga/G1)

Meninos se divertem no quarto que dividem na Asa Norte (Foto: Isabella Formiga/G1)

“Perguntamos ao mais velho se ele via algum problema nisso. Já tínhamos conversado por telefone com eles antes, e ele voltou a dizer que não, que entendia”, lembra o professor.

Em menos de 15 dias, o casal embarcou com os filhos com destino à nova casa deles. O processo de adoção de Vinicius ainda levaria outros cinco meses.

Adaptação
Com a chegada dos três irmãos, o professor universitário teve direito a cinco dias de licença para passar com os filhos. “Tive que voltar ao trabalho e as crianças ficaram basicamente com o Osmir. Tentamos minimizar o problema, mas ficamos um tempo numa situação difícil”, lembra o professor. “Naquela época eu era coordenador do curso, ficava muito tempo na faculdade e eles ficavam juntos comigo, chegaram a me acompanhar em reuniões. A gente dava lápis de cera, bolacha, banana, e dizia: ‘Vamos fazer um piquenique hoje’ e juntos eles se distraíam.”

A concessão da licença para as crianças levou mais do que o casal imaginava. “O processo ficou dois meses circulando dentro da UnB, um mês dentro do MEC [Ministério da Educação] e depois foi para o Ministério do Planejamento, que também deu parecer favorável.”

Quando finalmente buscou Vinicius, em maio deste ano, o professor conseguiu tirar férias de 45 dias. “Senti a grande diferença e a necessidade de todas as pessoas que adotam de terem esse espaço com a criança, porque minha relação com ele foi totalmente diferente dos demais, por ter mais proximidade e por ter criado um vínculo mais rápido”, conta Santos. “Esse tempo foi fundamental.”

“Acho que é um direito conquistado. O que é bacana nessa história toda é a jurisprudência, já que agora outras pessoas não precisarão mais passar por esse interstício”, disse.

Final feliz
Passado quase um ano da adoção, os pais dizem que nem se lembram mais como era viver sem as crianças. Atualmente, a família vive em um espaçoso apartamento na Colina da UnB, na Asa Norte. Os meninos dormem em beliches no mesmo quarto, decorado com imagens temáticas de super-heróis. As crianças frequentam a escola, fazem aulinhas de futebol e aos poucos vão conhecendo novos alimentos, já que no abrigo alimentavam-se apenas de arroz, feijão e carne.

“É uma coisa supergratificante. Adotar um grupo de irmãos é muito melhor porque eles se ajudam. É diferente, eles têm um elo de ligação entre eles. Eles dormem todos no mesmo quarto, a gente não quis separar. Quando chegaram, eles já se sentiram meio amparados. Não é uma relação solitária do eu sozinho com aquela pessoa estranha. Tem todo um contexto histórico deles, que eles já se adaptam”, conta Messora.

Chamado pelos filhos de “pai Carlos”, o professor se emociona ao falar da vida familiar. “Ser pai é uma realização pessoal. É poder transferir culturalmente, socialmente seus valores, fazer com que eles entendam seu próprio histórico de vida e como é bom ser honesto, como é bom construir sua vida pautada em valores. A gente espera deles exatamente isso: que consigam ser felizes da forma como quiserem, da forma como almejam, dentro desses princípios de honestidade, ética, de valores, e que possam ter uma formação religiosa, acadêmica, e que possam ser pessoas felizes e, tal como nós, realizar os sonhos deles. É o principal”, diz.

“Passado o tempo, a gente nem sente mais que eles não vieram do nosso seio familiar ou que eles nao estiveram inserido desde sempre”, afirma.

Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário

Existe racismo no Brasil? Faça o Teste do Pescoço e descubra.

Teste criado por Negro Belchior, do site da CartaCapital. O Observatório traz essa reflexão a tona hoje, dia da consciência negra, mas a luta por mudanças deve ser contínua.

1. Andando pelas ruas, meta o pescoço dentro das joalherias e conte quantos negros (as) são balconistas.

2. Vá em quaisquer escolas particulares, sobretudo as mais caras, como Objetivo ou Dante Alighieri, espiche o pescoço para dentro das salas e conte quantos alunos negros  há. Aproveite e conte quantos professores são negros e quantos negros estão varrendo o chão.

muro3. Vá em hospitais como o Sírio Libanês, enfie o pescoço nos quartos e conte quantos pacientes são negros. Gire o pescoço e conte quantos médicos negros há. Aproveite para espichar bem o seu pescoço nos corredores e conte quantos negros limpam as vidraças ou servem cafezinho.

4. Quando der uma volta em algum shopping, gire o pescoço para as vitrines e conte quantos manequins representam a etnia negra consumidora. Enfie o pescoço nas revistas de moda, nos comerciais de televisão e conte quantos(as)  modelos negros(as) fazem publicidade de perfumes, carros, viagens, vestuários e etc. Reflita acerca da alta e baixa estima das crianças negras e brancas.

5. Vá às universidades públicas, observe nos cursos mais concorridos da USP e UNICAMP, torça o pescoço a procurar pelos negros e negras. Conte quantos são professores, alunos e serviçais.

6. Espiche o pescoço numa reunião de partidos como PSDB ou DEM e conte quantos políticos são negros desde a fundação. Depois faça uma reflexão a respeito de alguns partidos serem contra todas as reivindicações das comunidades negras, sobretudo as Cotas Raciais.

protesto-cotas-usp-hg7. Gire o pescoço 180° durante as  passeatas dos médicos que protestam contra os médicos estrangeiros,  e conte quantos médicos(as)  negros(as) marcham.

8. Meta o pescoço nas cadeias, nos orfanatos, nas casas de correção para menores e conte quantos são brancos.
É mais fácil.

9. Gire o pescoço e procure quantas empregadas domésticas, serviçais, faxineiros, favelados e mendigos são brancos.  Pergunte-se qual a causa dos descendentes de europeus ou orientais não serem vistos embaixo das pontes, em favelas, na mendicância ou varrendo o chão. Quando seus ascendentes chegaram ao Brasil? Quando terminou a Abolição?

10. Espiche bem o pescoço na hora do Globo Rural e conte quantos fazendeiros são negros, depois tire a conclusão de quantos são sem-terra, quantos são sem-teto. Gire o pescoço durante a exibição do programa Pequenas Empresas & Grandes Negócios e conte:  Quantos empresários são negros?

11. Nos canais abertos de televisão, gire o pescoço  nas programações e conte quantos apresentadores, jornalistas ou âncoras de jornal, artistas em estado de estrelato, são negros. Onde as crianças negras se veem representadas? Pergunte-se se esta espécie de racismo é construtivo para a auto estima dos pequenos filhos de determinada etnia?

IMG_010312.  Enfie seu  pescoço dentro das instituições bancárias e conte quantos negros são gerentes, quantos são caixas e quantos são faxineiros.

13. Vá num dos bairros mais caros de sua cidade, de seu estado,  gire seu pescoço pelas ruas, dentro das casas, no comércio. Quantos negros são moradores? Quantos são seguranças e empregados domésticos ? Aproveite e torça seu pescoço nos ‘melhores’  restaurantes, quantos clientes são negros? Aliás, conte quantos chefs são negros? Pergunte-se a diferença de salários entre um chef badalado e as cozinheiras negras.

Somos  de fato um país pluricultural, uma ‘Democracia Racial’  tratados iguais e com as mesmas chances? Desde quando existe esta diferença que você viu? Procure na História do seu país, regresse 500 anos e encontre as respostas.

Publicado em Pérolas Negras | Deixe um comentário

Marcha do dia da Consciência Negra marca ápice da I Mostra de Arte e Resistência Negra (MARAN) de Viçosa

O dia da consciência negra é comemorado em Viçosa com a tradicional Marcha da Consciência Negra, que chega à sua sexta edição nesse ano. Nessa quinta-feira, 20, estima-se que dezenas de pessoas saiam às ruas em Viçosa para relembrar a morte de Zumbi dos Palmares, o último líder quilombola do Quilombo dos Palmares.

VI Marcha do Dia da Consciência Negra.

Às 17 horas, haverá uma oficina de confecção de cartazes para a marcha. A marcha, realizada pelo Centro de Referência da Cultura Afro Brasileira e com apoio da Associação de Capoeira Guerreiros de Zumbi,  Prefeitura Municipal de Viçosa, Universidade Federal de Viçosa e ASAV, se concentrará às 18 horas nas Quatra Pilastras, de onde sairá rumo à Praça da Matriz, onde acontecerá diversas intervenções artístico-culturais, como samba, capoeira, congado e maracatu.

A marcha faz parte das festividades realizadas pelo I MARAN – Mostra de Artes da Consciência Negra de Viçosa.

Semana da consciência negra em Viçosa

I MARAN

I MARAN – Primeira Mostra de Arte e Resistência Negra

Durante a semana da Consciência Negra, o Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (NEAB) juntamente com a Casa Cultural do Morro está realizando a I MARAN – Mostra de Arte e Resistência Negra. A mostra contou com diversas atividades importantes durante essa semana. O evento iniciou-se na segunda-feira, 17, onde houve um bate-papo com as escritoras Miriam Alves (SP) e Juliana Alves (NEAB), juntamente com um sarau de poesias.

Na terça-feira foi realizada uma audiência pública na Câmara Municipal sobre o dia da consciência negra, onde ressaltou-se os números do assassinato à juventude negra brasileira. Segundo levantamento da ONG Anistia Internacional para a campanha Jovem Negro Vivo, 30 mil jovens são assassinados no Brasil todos os anos, sendo que 93% são homens e 77% negros. Em Viçosa, segundo o jornal Folha da Mata, foram registrados 26 assassinatos somente esse ano, até a data da publicação. Em todo o ano de 2013 foram registrados 25 assassinatos. Desse total, mais de 50% são jovens, negros e moradores das periferias de Viçosa.

Ainda na terça-feira, foi realizada uma roda de conversa na Estação Cultural Hervé Cordovil, no centro da cidade, uma roda de conversa com as escritoras afro-brasileiras Cristiane Sobral (DF) e Miriam Alvez (SP), sob a luz da temática “Não somos mais o retrato, agora somos nós que tiramos a nossa própria foto: literatura negra brasileira”, juntamente com um sarau de poesias. Posteriormente, houve o lançamento e noite de autógrafos do livro “Só por hoje eu vou deixar o meu cabelo em paz” de Cristiane Sobral.

Confira a programação completa da semana na imagem abaixo:

Programação

Programação da I MARAN. A mostra encerrará no sábado com uma intervenção cultural no Espaço Multi-Uso da UFV, com programações culturais, desfile das Pérolas Negras. O ingresso será 1 kg de alimento não perecível.

Dia da Consciência Negra

Zumbi

Zumbi dos Palmares, último líder do Quilombo dos Palmares, cuja data da morte é comemorada como o Dia da Consciência Negra.

Com a redemocratização do Brasil e a promulgação da Constituição de 1998, vários segmentos da sociedade, como o Movimento Negro, obtiveram maior espaço no âmbito das discussões e decisões políticas. Leis como as de preconceito de raça, leis educacionais como as de cotas raciais, no âmbito de ensino superior, e a lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que instituiu a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-brasileira, são exemplos de legislações que preveem certa reparação aos danos sofridos pela população negra na história do Brasil.

A figura de Zumbi dos Palmares é reivindicada como o símbolo de todas essas conquistas, tanto que a lei que institui o dia da Consciência Negra é marcada no dia de sua morte.

A lei nº 10.639, ainda diz no Art. 26-A, parágrafo 1º, os seguintes reparos históricos: “O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.”

Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário

Representantes do Observatório participam de mesa sobre movimentos sociais em evento da UEMG/Leopoldina

Seminário

O seminário, que teve início no dia 10 e encerramento no dia 14, debateu importantes assuntos competentes à pedagogia como a participação da família no processo de educação e a educação no campo visando o empoderamento desses meios rurais. (Reprodução)

Três representantes do Observatório dos Movimentos Sociais participaram na última sexta, 14, do “V Seminário Interdisciplinar do Curso de Pedagogia – Ensino, Pesquisa e Extensão: Debates e Interlocuções”, realizado pelo curso de Pedagogia da UEMG/Leopoldina. O Prof. Fabrício Oliveira, coordenador do projeto, e os bolsistas Verônica Monteiro e Ytalo Gouvêa, participaram da mesa “Movimentos sociais na Zona da Mata: desafios para a pesquisa e extensão”, em um espaço reservado para a discussão da educação na zona rural.

O Prof. Fabrício fez uma breve apresentação relacionando movimentos da igreja católica com os movimentos sociais do campo em Minas Gerais e ressaltou a importância dos projetos de pesquisa e extensão buscarem melhores formas de dialogar com os grupos que desejam assistir, de forma a evitar transtornos e uma comunicação mais eficiente. Em seguida, Verônica e Ytalo dialogaram sobre o que é e ou seus  papéis no MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) e MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), respectivamente, contextualizando à situação da Zona da Mata. Posteriormente fizeram uma breve apresentação do Observatório dos Movimentos Sociais para os presentes.

Também participaram da mesa os professores da UEMG Alen Henriques, Arnaldo Zamgelmi e Inácio Cruz que apresentaram temas relacionados à temática.

Publicado em MAB | Marcado com , , , | Deixe um comentário

Jovem Negro Vivo

O Brasil é o país onde mais se mata no mundo. Mais da metade dos homicídios tem como alvo jovens entre 15 e 29 anos, destes, 77% são negros. Assine o manifesto e diga chega de homicídios!

Todos os jovens têm direito a uma vida livre de violência e preconceito. Vamos lutar por isso para transformar esta realidade.

Confira os dados da campanha no infográfico animado e veja de que realidade estamos falando:

Abre-se aqui um manifesto, mostre que você quero que as autoridades brasileiras assegurem aos jovens negros seu direito a uma vida livre de preconceito e de violência. E priorizem políticas públicas integradas de segurança pública, educação, cultura, trabalho, mobilidade urbana, entre outras.

Saiba mais em Anistia Internacional e assine o manifesto.

Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário

Transexuais dizem que se sentiram acolhidas no Enem com nome social

transgeneros

Maria Clara, Maria Laura e Deborah usaram nome social no Enem

Publicado originalmente no G1

Pela primeira vez em sua história o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) permitiu que candidatos transgêneros usassem o nome social na inscrição e nas provas. Transexuais ouvidas pelo G1 disseram que não sofreram nenhum tipo de discriminação e tudo transcorreu normalmente nos dois dias de prova.

A candidata transexual Maria Clara Araújo, de 18 anos, diz que se sentiu acolhida durante a prova do Enem neste fim de semana, quando pode usar seu nome social. Essa foi a segunda vez que ela prestou o exame, mas será a primeira em que ela poderá ser tratada pelo nome que escolheu para si.

Foi a primeira vez que o Inep ofereceu essa possibilidade. Ela pretende disputar uma vaga em serviço social na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

A candidata disse que só foi tratada apenas como Maria Clara no local de provas e que não teve problemas na hora de se identificar. “Acho que ela [a fiscal] já tinha dado uma olhada e visto que viria uma mulher trans para a sala. Quando cheguei, ela me olhou e já abriu um sorriso. Me senti acolhida.”

Maria Clara diz que se sentiu feliz com o atendimento. “A prova, em si, já é de resistência. Mexe com seu psicológico e te desestabilizada. Então, foi muito bom ter ficado tranquila em relação a esse aspecto da minha vida.” Para ela, a sociedade tem de tomar consciência da importância. “É nosso nome, não é ‘conhecida como’, não é ‘nome de show’.”

Pelas regras do Enem, o candidato transexual pode optar por usar o banheiro masculino ou feminino do local de prova. “Não fui ao banheiro”, disse Maria Clara.

‘Não senti nenhum desconforto’

A transexual piauiense Maria Laura dos Reis, 36 anos, disse que não sofreu qualquer tipo de constrangimento e afirmou ter sido bem tratada durante os dois dias de prova.

“Não sofri nenhum tipo de constrangimento, pelo contrário, fui bem tratada nesses dois dias do Enem. Quando cheguei ao local de prova não tive nenhum problema com a minha identificação. Os fiscais me chamaram pelo nome social que tinha no meu cartão de confirmação. Entrei na sala normalmente, recebi a prova como os demais candidatos e depois eles passaram recolhendo as assinaturas”, contou.

“Não senti nenhum desconforto ou discriminação por isso, creio também que os fiscais tiveram um preparo antes para nos acolher de forma igual”, declarou.

Ao todo, 95 candidatos e candidatas transexuais tiveram autorização do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) para usar seu nome social durante as provas do Enem. Segundo a assessoria de imprensa do Inep, as 95 solicitações feitas foram atendidas.

Para poderem garantir o direito, os candidatos e candidatas precisaram ligar para um telefone de atendimento e solicitar um formulário específico (veja acima). Entre as opções estavam a designação em sala de aula conforme a ordem alfabética do nome social, o tratamento dado pelos fiscais e se vão querer usar o banheiro

‘Fizeram em me sentir bem’

Deborah Sabará, de 35 anos, contou que não sofreu nenhum tipo de preconceito ou desconforto pr isso. Pelo contrário, ela relatou que foi tratada de maneira “normal”, a atitude que mais esperava. “Queremos ser tratados como qualquer outra pessoa. Fizeram eu me sentir bem, o que até me ajudou a ficar tranquila para a prova”, disse.

Deborah contou que ficou muito satisfeita com o tratamento que recebeu. “Fui bem recebida. Uma amiga minha me perguntou como tinham me tratado e eu respondi ‘normal’, que é o que a gente sempre quer, ser tratado como qualquer outra pessoa”, disse. “Não ficaram com aquilo de ‘temos que tomar cuidado com ela’. Quando eu cheguei na porta da sala, pegaram meu documento e me chamaram de Deborah.”

No sábado (8), após terminar a prova, Deborah contou que foi levada até uma sala para avaliar como tinha sido o meu tratamento. “Fiquei surpresa com essa preocupação do Ministério da Educação, não sabia que teria isso. Achei interessante”, disse a transexual, que vai tentar vestibular para o curso de serviço social.

Deborah achou o Enem difícil. “Não foi uma prova fácil, tinha muitos textos, e confesso que sou ruim em matemática, nunca gostei muito. Vi outros temas muito complicados. Mas gostei do tema da redação, sobre a publicidade infantil. É um tema que a gente discute muito no movimento, então não tive dificuldades em escrever sobre ele. Meu texto ficou bem crítico.”

Publicado em Primavera nos Dentes | Deixe um comentário

Programa “Amor e Sexo” é recebido da forma que mereceu: mal

Orginalmente publicado por Clara em Lugar de Mulher

Não sei nem por onde começar a gongar, mas posso garantir que ninguém precisa passar por aquilo, então nem vejam. Eu achei que fosse ter um treco. Foi tanta, mas tanta coisa errada que não cabe tudo num post, então vou ficar em apenas um dos inúmeros equívocos daquele programa.

1

Poucas vezes me constrangi tanto quanto ao ver esta buceta falando ao telefone com a “siririca” ao seu lado. Globo, vocês estão precisando de roteiristas? Me add

A gente bate, bate, bate e bate na tecla de que o que acontece na rua não é “cantada”, não é legal e às vezes até tememos por nossa integridade física, o debate evolui, alguns homens começam a entender e aí fazem o que? Selecionam pedreiros gatinhos no Rio de Janeiro pra contar na televisão o tipo de cantada que eles passam nas mulheres. Como se o cara ser bonito anulasse o desconforto e liberasse tudo. Como se só pedreiros fizessem isso. Como se esse circo fizesse algum sentido.

A única pessoa que fazia sentido lá era Regina Navarro Lins, coitada, que deveria estar ganhando adicional por insalubridade.

Que tipo de plateia GARGALHA quando uma mulher (no caso, a Letícia Spiller) conta que quando estava grávida de 5 meses e a barriga não aparecia direito um cara enfiou a mão debaixo da saia dela (“lá”, segundo ela) e apertou? Gargalharam, gente. Não vou nem entrar na questão da barriga aparecer ou não, dela estar grávida ou não, as pessoas riram de uma mulher sendo assediada desse jeito. É engraçado? Onde que isso é engraçado?

Tinha lá também uma delegada sem noção que relativizou assédio, disse que “não tem problema chamar de linda, mas tem que ter limite”. Quem a doutora pensa é que pra dizer qual é o limite de cada mulher?

Vou deixar aqui umas palavras da Juliana de Faria, criadora da campanha Chega de Fiu Fiu:

Assédio é VIOLÊNCIA. É uma abordagem, muitas vezes grosseira e ofensiva, feita alheia à vontade da mulher. E como não tem consentimento, muitas vezes ela amedronta, humilha e até traumatiza. Segundo a ONU, UMA em cada 5 mulheres no mundo já sofreu uma violência sexual. É claro que muitas de nós teremos um gatilho mais sensível a esse comportamento, às tais ~cantadas~. Então por isso quem tem que ter a palavra final sobre se foi ou não ofensivo, se foi ou não humilhante, se é ou não chato ter um cara dizendo pra você sorrir, “querida” somos nós, mulheres.

Chega de fiu fiu é chega de fiu fiu, chega de assédio, chega de linda, de gostosa, chega de falar com desconhecidas na rua, chega, chega. Pelo menos no caso da Letícia a delegada admitiu que era assédio. Mas pra ela, pelo jeito, assédio só existe quando metem a mão.

2

“Mas tem mulher que gosta”, é o argumento preferido de uns e outros aí. Deixo com vocês a reflexão que a quadrinista Gabriela Masson, a Lovelove6, que é a criadora da maravilhosa Garota Siririca e pretende fazer alguns quadrinhos a respeito desse tema em breve:

O assédio na rua é tão naturalizado que muitas mulheres acreditam que a presença do assédio é a confirmação de que são “normais”, “aceitáveis” e desejáveis. Quando a mulher não é mais assediada na rua, mesmo tendo consciência política a respeito do que o assédio significa, pode rolar mesmo um sentimento de “ausência”, um estranhamento “será que tô feia, qual será o problema”, mas isso rola por essa introjeção da naturalidade do assédio. Especialmente porque nós crescemos sendo assediadas, desde o momento em que chega a puberdade.
Quando os assédios, pra mim, finalmente cessaram 99%, eu me deparei com esse conflito de me sentir mais segura mas ao mesmo tempo “menos desejada”. Eu tive que refletir bastante sobre esses sentimentos estranhos pra ficar de boa comigo mesma e conseguir realmente aproveitar a liberdade de andar na rua sem sofrer assédios.

E isso acontece porque somos criadas pra buscar aprovação masculina, que é outra tecla que nossos lindos dedinhos já estão cansados de bater. Eu, particularmente, já respondia assédio de rua quando nem eram direcionados a mim, quando era criança e falavam com a minha mãe. Ficava furiosa, xingava, externava um ódio que eu ainda nem sabia racionalizar porque sentia naquelas situações todas a imensa falta de respeito que era falarem com a minha mãe daquele jeito.

Outra que adoram falar é: “Mas não pode mais flertar? As feministas querem acabar com o romance!”

Olha, colega, se botar a cabeça pra fora do carro e gritar gostosa pra uma mulher que você nunca viu na vida é romance, tem alguma coisa muito errada nos seus conceitos. Os homens que assediam mulheres na rua não têm nenhum interesse nelas. Eles não querem sentar e ouvir sobre a vida delas, não querem chamar para uns bons drink, não querem nada. Não há um interesse real; há apenas uma relação de poder em que eles fazem isso porque podem, porque foram ensinados que “mulher gosta”, porque há a percepção de que as mulheres que estão na rua são corpos disponíveis.

E é evidente que se um cara chegar pra você com real interesse é outra história, né?

“Mas mulher também faz!”

Pode ser que algumas façam. Pode ser que o cara se sinta constrangido, sem jeito, mas dificilmente vai se sentir acuado ou temer por sua integridade física. Quer dizer, a gente passa anos falando que a maioria esmagadora das mulheres não quer saber de ninguém chamando nem de linda, nem de gostosa e nem de nada na rua e fazem o quê? Um circo num programa da maior emissora de televisão do país relativizando assédio e tirando uma com uma questão séria dessas. Isso tem nome: desserviço. Valeu, galera!

Publicado em Coletivos Vacas Profanas | Deixe um comentário